A ARTE DE EGAS FRANCISCO
Produzidas por amplos gestos, cada pincelada torna-se uma caligrafia de uma sensibilidade complexa, criada a partir da interação ao mesmo tempo formal e subjetiva. Seu objetivo é atrair o espectador para o ato da criação, mostrando na desordem dos elementos uma coerência de energias que se avolumam na tela criando várias articulações de sentidos.
O artista em seu atelier, 2012
Suas formas, apesar de poderem começar com um simples rabisco ou marca, são acionadas por intuições conscientes nas quais a experiência prática cotidiana do enfrentamento da tela tem grande participação. As suas telas são produzidas sem premeditações, mas, nem por isso, sem a pressão fiel e inflexível de um sentimento de precisão que traz em si a experiência de muitos anos de prática da pintura.
Sua capacidade de fazer jorrar formas interessantes se acumula a cada nova criação, numa sondagem contínua do mundo, de si mesmo e da arte. Mas o sentido de tudo isso é baseado num princípio único: formas devem ter e expressar a emoção de uma experiência complexa e vivida de maneira completa.
Elesbão - aquarela
Dissolvendo as formas e os contornos das figuras, pinceladas
sugerem uma espécie de erotismo vital contendo tanto passagens de calor (quando
o vermelho contamina as formas que jorram incontroláveis), como de frio
vibrante (quando o branco se aloja sobre formas em contensão). Uma profusão de
pinceladas desconcertantes, entrecortadas, revela uma técnica magistral de uso
da cor que cria uma realidade visual impactante aos olhos do espectador.
O espírito da paisagem - óleo s/ tela
Na sua pintura, a interação dos elementos é dada num grande
fluxo de encontros ou cruzamentos visuais, quando contornos internos e externos
são fragmentados por golpes e contragolpes provindos dos gestos do pintor. A
tenacidade da perícia do gesto executado rapidamente, quase instantaneamente, é
extraordinária. Através dessa disposição se produz claridades luminosas e
vivacidades que não poderiam ser atingidas em composições mais meditadas.
Ao concentrar-se diante do seu cavalete, Egas busca um estado puro,
de transbordamento espontâneo, não programado, onde emoções intensas só podem
ser expressas intensamente. Seus sentimentos e emoções podem, durante a sessão,
ganhar formas extremas. Uma performance
irrefletida transborda em gestos não programados, onde braços, mãos e olhos,
todos conduzindo em uníssono o pincel, expressam enfaticamente seu caráter
afetivo. Cada centímetro da tela recebe os golpes que fazem introduzir em cada
mínimo detalhe o maior e mais profundo conteúdo expressivo. Aqui a expressão
não é levada para fora, mas para dentro do recipiente que é a obra de arte. Por
isso, ao comentar o trabalho de Egas deve-se desdobrar a forma e explicar cada
pequeno detalhe, esses códigos de intensidade que carregam exorbitantes cargas
energéticas.
“O artista é o criador de uma realidade sem precedentes que vai reivindicar uma existência autônoma”.
(Jean Starobinsky)