terça-feira, 27 de março de 2012

A ARTE DE EGAS FRANCISCO




Produzidas por amplos gestos, cada pincelada torna-se uma caligrafia de uma sensibilidade complexa, criada a partir da interação ao mesmo tempo formal e subjetiva. Seu objetivo é atrair o espectador para o ato da criação, mostrando na desordem dos elementos uma coerência de energias que se avolumam na tela criando várias articulações de sentidos.



O artista em seu atelier, 2012

Suas formas, apesar de poderem começar com um simples rabisco ou marca, são acionadas por intuições conscientes nas quais a experiência prática cotidiana do enfrentamento da tela tem grande participação. As suas telas são produzidas sem premeditações, mas, nem por isso, sem a pressão fiel e inflexível de um sentimento de precisão que traz em si a experiência de muitos anos de prática da pintura.

Sua capacidade de fazer jorrar formas interessantes se acumula a cada nova criação, numa sondagem contínua do mundo, de si mesmo e da arte. Mas o sentido de tudo isso é baseado num princípio único: formas devem ter e expressar a emoção de uma experiência complexa e vivida de maneira completa.

Elesbão - aquarela

 Dissolvendo as formas e os contornos das figuras, pinceladas sugerem uma espécie de erotismo vital contendo tanto passagens de calor (quando o vermelho contamina as formas que jorram incontroláveis), como de frio vibrante (quando o branco se aloja sobre formas em contensão). Uma profusão de pinceladas desconcertantes, entrecortadas, revela uma técnica magistral de uso da cor que cria uma realidade visual impactante aos olhos do espectador.


O espírito da paisagem - óleo s/ tela

Na sua pintura, a interação dos elementos é dada num grande fluxo de encontros ou cruzamentos visuais, quando contornos internos e externos são fragmentados por golpes e contragolpes provindos dos gestos do pintor. A tenacidade da perícia do gesto executado rapidamente, quase instantaneamente, é extraordinária. Através dessa disposição se produz claridades luminosas e vivacidades que não poderiam ser atingidas em composições mais meditadas.


Atelier do artista

Ao concentrar-se diante do seu cavalete, Egas busca um estado puro, de transbordamento espontâneo, não programado, onde emoções intensas só podem ser expressas intensamente. Seus sentimentos e emoções podem, durante a sessão, ganhar formas extremas. Uma performance irrefletida transborda em gestos não programados, onde braços, mãos e olhos, todos conduzindo em uníssono o pincel, expressam enfaticamente seu caráter afetivo. Cada centímetro da tela recebe os golpes que fazem introduzir em cada mínimo detalhe o maior e mais profundo conteúdo expressivo. Aqui a expressão não é levada para fora, mas para dentro do recipiente que é a obra de arte. Por isso, ao comentar o trabalho de Egas deve-se desdobrar a forma e explicar cada pequeno detalhe, esses códigos de intensidade que carregam exorbitantes cargas energéticas.





 “O artista é o criador de uma realidade sem precedentes que vai reivindicar uma existência autônoma”. 
(Jean Starobinsky)